quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010


Um não! Ao "apagão" filosófico e sociológico
Paulo Ghiraldelli Jr (*)

Há absurdos inteligíveis: um país como o Brasil fazendo racionamento de energia. E há absurdos
ininteligíveis: um país como o Brasil fazendo racionamento de aulas de sociologia e filosofia.
Acredito que precisamos da filosofia e da sociologia no Ensino Médio por duas razões simples.
A primeira razão é que tanto a filosofia como a sociologia são disciplinas tão significativas no patrimônio da cultura ocidental quanto a matemática, a física, a biologia, a química, o desenho e outras. Os elementos básicos em filosofia e sociologia não podem, em um país com o desenvolvimento do Brasil, serem fornecidos somente para os que atingem o ensino superior e, dentre estes, a um pequeno grupo, os que escolhem determinados cursos em "ciências humanas".
A segunda razão é que o próprio ensino da filosofia e da sociologia em nível superior, em nosso país, não pode mais sobreviver gerando pessoas cujo trabalho se resume em pesquisar assuntos que não são, minimamente, de domínio público, e em ensinar aqueles que, uma vez tendo procurado a filosofia e a sociologia em nível superior, não tiveram o direito de ter contato com elas no ensino pré-universitário.
Nós não somos, é claro, todos médicos e químicos etc., mas temos uma escola pré-universitária cujos conteúdos curriculares devem nos permitir entender o que é a atividade de um médico e de um químico e, enfim, nos deixar chegar a compreender sobre o que um médico conversa com outro médico na sua profissão e sobre o que um químico conversa com outro químico na sua profissão. No entanto, aos meus filhos é negado o direito deles saberem, através da escola, sobre o que posso eu estar conversando com outro professor de filosofia e sobre o que o Presidente da República pode querer conversar com seus antigos colegas de trabalho, os sociólogos. Vários se preocupam sobre o que será a filosofia e o que será a sociologia no Ensino Médio. Se preocupam para além da conta, e com isso deixam, mais uma vez, que o ótimo se torne o inimigo do bom. Creio que somos um povo razoável, e que da mesma maneira que o mais louco professor de
matemática, no âmbito do Ensino Médio, não pode deixar de trabalhar com equações do segundo grau sem ser cobrado, o mais mal formado professor de filosofia acabará adquirindo um manual que fale de como era a maiêutica de Sócrates, e seus alunos poderão, então, finalmente, entrar na Polis não apenas pelas portas das disciplinas história e geografia. Por mais desarrumado que possa ser um professor de sociologia, creio que ele acabará tendo em mãos um manual que fale que as sociedades podem ser divididas em pobres e ricos, mas que podemos sofisticar essas denominações se falarmos que sociedades são divididas, por exemplo, em classes. Creio que um aluno assim poderá entrar na Polis não apenas pelas portas das disciplinas história e geografia, ou pela leitura dos jornais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário