sábado, 6 de março de 2010

MANIFESTO DE PROFESSORES EM APOIO AOS ESTUDANTES INDICIADOS POR PROTESTAREM CONTRA O REUNI EM 2007.

Tristes dias para a UFAL, piores dias para a Universidade brasileira!

Três estudantes são indiciados pela Justiça Federal!

Repassemos os fatos:

1) Há anos assistimos à destruição da qualidade de ensino e pesquisa da Universidade brasileira articulada à extensão da rede privada do ensino superior. Os mais velhos de nós lembram-se como foi preciso quebrar a estrutura pública de ensino para que as escolas privadas pudessem dominar o ensino médio. Mais alguns anos e este mesmo processo estará concluído também para o ensino superior.
2) Há anos o BID e o Banco Mundial, assessorando o governo FHC, identificaram que os principais pontos de resistência à conclusão desse processo vinham da comunidade universitária, do ANDES e do movimento estudantil em especial.
3) Depois de um arrocho brutal no salário dos professores, o governo Lula “aumentou” nossos salários e, ao mesmo tempo, teve sucesso em enfraquecer o ANDES. As forças favoráveis ao governo tomam conta da UNE. Era chegada a hora de implementar as últimas "reformas".
4) O Ministério da Educação e o governo Lula deixaram esse triste papel aos reitores. Em troca de verbas que lhes permitiriam entrar na história de suas universidades como grandes empreendedores de obras, deveriam silenciar violentamente a pouca oposição que ainda restava.
5) Foi o que ocorreu com a violência que vimos na aprovação do REUNI, em 2007. Em boa parte do Brasil houve resistência dos estudantes e professores nas Universidades Federais (UFRJ, UFJF, UFF, UFAL entre outras) contra a aprovação do REUNI, pois representava um avanço das propostas neoliberais no interior do espaço acadêmico.
6) Na UFAL, a situação se tornou ainda mais grave. Depois de trazer para a reunião do CONSUNI vereador e estudantes do interior, com instrumentos para uma barulhenta manifestação de apoio ao REUNI, a reitoria não foi capaz de considerar a proposta de uma discussão mais democrática com toda a comunidade universitária, conforme queriam os estudantes que resistiam. Preferiu, diante do confronto de opiniões, recorrer, naquele momento, aos membros da segurança privada, encarregada da proteção do patrimônio da UFAL, para dispersar a oposição ao REUNI. O que fez agredindo violentamente alunos e professores.
7) A reunião seguinte aconteceu em uma “gaiola de metal”, com os membros do CONSUNI confinados, e violando-se o caráter aberto à comunidade que deveriam ter as deliberações do CONSUNI . Para juntar injúria ao opróbrio, a reitoria ainda trouxe a Polícia Federal para dentro do Campus – que saudade dos tempos do reitor professor Gama, que não permitia, em plena ditadura, que a Polícia Federal entrasse no campus universitário, honrando a centenária tradição da autonomia universitária!
8) Vergonhosamente para a UFAL, nossos representantes no CONSUNI, com honrosas exceções, aceitaram deliberar naquelas circunstâncias!
9) Nos dias que vivemos, com base em depoimentos feitos pelos alunos não assistidos por advogados e, ainda, com base em um vídeo que não mostra tudo o que ocorreu na reunião do CONSUNI , a reitoria indicia criminalmente três estudantes como punição à resistência imposta por parte da comunidade acadêmica aos princípios do REUNI que implicavam na degradação da qualidade do ensino superior, no aligeiramento da formação profissional, e na mercantilização da pesquisa.
10) O debate democrático de opiniões, naquele momento, foi ignorado, sendo a aprovação do REUNI tratada como uma tarefa institucional burocrático-administrativa, cujo processo deveria ser rapidamente desimpedido a qualquer preço. A reunião do CONSUNI no auditório do Severinão, estava sob o comando da direção máxima da UFAL, e o desfecho violento que teve foi resultado do despreparo em lidar com situações de conflito e da ausência de negociação por parte da reitoria. Desse modo, manifestando sua disposição em eliminar toda e qualquer oposição no interior da UFAL.
11) Aberto o precedente de jogar a segurança privada contra estudantes e professores, aberto o precedente de trazer a polícia ao campus, por que deveríamos nos surpreender com o indiciamento judicial dos estudantes? Indiciados os estudantes, ao que mais devemos ir nos acostumando desde já? A serem convertidas em crime de opinião as ideias que não interessam ao reitor do momento?
12) O que está em jogo é muito mais do que simples destino dos estudantes, ainda que isto seja da maior importância. O que está em questão é a capacidade da comunidade universitária de colocar a UFAL em um novo rumo que, acima de tudo, respeite a autonomia universitária e garanta o que logo estará sob ataque direto e hoje sofre um discreto assédio: a liberdade de opinião e de cátedra.

Contra o Indiciamento dos Estudantes.

Contra a criminalização dos movimentos sociais e estudantis.

Pela Liberdade de expressão e de manifestação.

Por uma Universidade pública, gratuita, laica e de qualidade.


Professores:

Artur Bispo – Filosofia
Edlene Pimentel – Serviço Social
Edna Bertoldo – Educação
Gilmaisa Macedo da Costa – Serviço Social
Ivo Tonet – Filosofia
Maria Cristina Paniago – Serviço Social
Norma Alcântara – Serviço Social
Reivan Marinho – Serviço Social
Sergio Lessa – Filosofia
Talvanes – Educação

Nenhum comentário:

Postar um comentário