O 30º tom: o da saudade!
Desde pequena, apesar das
tantas diversidades passadas por minha mãe, em criar uma filha
sozinha: pouco tempo disponível, muitas vezes grana curta, muito
trabalho, ela sempre dava um jeito de celebrar meus aniversários,
SEMPRE! Fosse de um bolinho com os coleguinhas da rua, a um festão
com um monte de convidados. Nunca, mas nunca em toda minha infância
fiquei sem uma celebração nos 21 de junho.
Eram dias esplêndidos
pra mim, pois toda a preparação se dava em casa. Mainha e suas
amigas a fazer doces, salgados, bolos; no restante da casa, o cheiro
de látex das bolas de sopro e o aroma da cozinha tomava conta. E
eu?! Sentindo frio na barriga, ansiosa pela noite que estava por vir.
Eis que a noite chegava,
e eu, vestindo roupa nova, recebia os convidados, já brincando e
empolgada, entre os amigos de minha mãe, e os coleguinhas da rua, já
tratava de começar a festa! A cama, repleta de presentinhos que iam
de bonecas à chocolates. Enfim, eram festas que jamais serão
esquecidas pela minha pessoa até o fim dos meus dias. Por essas e
outras é que valorizo tanto as confraternizações de aniversário.
Você, se sente amada, lembrada, ou, minimamente, importante.
2014: há dois anos moro
em SP, vim pra cá aos 27 e já fiz dois aniversários aqui (esse é
o 3º). Logo, minha “gangue”está toda em Maceió. Os poucos (são
poucos mesmo) amigos, colegas, conhecidos que tenho em SP, nem sempre
estão disponíveis por conta das condições objetivas que a própria
cidade impõe; ou os que simplesmente são indiferentes, acontece!
Assim, a empolgação do dia é inexistente. Pois não tenho tido
muito o que esperar no fim deles!
Não queria parecer
bucólica, introspectiva, mas desde quem ganhei consciência da vida
real, aquela para além das minhas bonecas, dos salgadinhos, doces e
bolo, que eu me deparo ano a ano fazendo balanço do que tem sido
essas passagens de idade, absorta em perguntas do tipo? E o que eu
fiz? E o que eu sou? Entre tantas outras interrogações
existencialistas. Mas, é uma equação simples de explicar: o tempo
também altera o mundo, logo sua história. Então, envelhecer não
se trata apenas de ter cabelos brancos (isso eu tenho desde os 26),
rugas, um número a mais pros registros, o creme que passa de 25+
para o 30+. É, antes de tudo, renovar a coragem pra enfrentar o
universo que lhe cerca. Eis que volto ao ponto inicial, que, apesar
de já ser uma mulher madura, o lúdico, os momentos comemorativos
com festa, são sempre bem vindos, ora, por que não? Eles dão a
leveza que a gente precisa! É como se colocar, mesmo que por um dia,
numa realidade paralela.
Parece supervalorização
desmedida, mas não é! O que existe, pra mim, são boas histórias,
boas memórias, das celebrações dos meus aniversários. E na atual
conjuntura da minha vida, as saudades, no dia mais significativo da
minha vida, vem com força por estar longe dos meus!
Mas,obviamente não quero
desmerecer aquele que ao meu lado torna esse saudosismo menos
cortante, me acompanhando, festejando ao meu lado das tantas maneiras
que dá pra se fazer a dois. Meu companheiro Júlio.
No mais, sentir saudades
há de ser um bom sinal, pois, como disse Florbela Espanca:
"Esquecer! Pra quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão."
"Esquecer! Pra quê?... Ah, como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão."
E é pra você, minha
mãe, que dedico mais um ano da minha vida, afinal, você que sempre
deu seu jeito pra que esses dias fossem pra eu me sentir mais
especial.
Em 21 junho de 1984,
deu-se por finita a agonia e a ansiedade de uma gestação difícil,
quase que impossível, pra sra. Obrigada pelos esforços: em me
trazer ao mundo e me manter nele!
São Paulo, 21 de junho de
2014.
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