sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

"Aperta o botão e faz funcionar a reforma agrária" ¹


Num desses dias, pra ser mais precisa: 06/01/2011 ao visitar os sitios de noticias de Maceió, eis que uma matéria da Gazeta Web me chamou a atenção. "Funcionários da Usina Seresta bloqueiam BR -101" . Inicialmente me chamou a atenção para os sujeitos da notícia: canavieiros. E por ter interesse na área da sociologia do trabalho; e também por tratar do universo do trabalho no corte da cana em AL, e de seus sujeitos, em grupo de pesquisa PIBIC - O “CANGURU” NO UNIVERSO CANAVIEIRO ALAGOANO: PRODUTIVIDADE E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NA AGROINDÚSTRIA SUCROALCOOLEIRA.

Sendo assim, trato a partir desse universo, dos movimentos de resistência nessa área da agroindustria sucroalcooleira do estado. Tratando-se, inclusive do temário da minha monografia.

Voltando à noticia... Logo, a primeira vista, pontuei três questões na notícia:
  • Resistência
  • Consciência
  • Reforma Agrária
Bem, nestes ultimos dias também venho lendo uma Tese do economista da Universidade de São Carlos - SP Francisco José da Costa Alves sob o título: "Modernização da Agricultura e Sindicalismo..." Que causou, de forma instantânea, à concatenação abstrativa de alguns fatores constituintes da notícia e do ato noticiado.


Assim diziam alguns trechos da referida matéria:

"Cerca de mil cortadores de cana que trabalham para a Usina Seresta fecharam, ontem, por cerca de 6h30 minutos, a rodovia BR-101, em frente à entrada da usina, que pertence à família do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), no município de Teotônio Vilela. Os trabalhadores colocaram ônibus atravessados na pista e queimaram lenha para reivindicar obrigações trabalhistas que não estariam sendo cumpridas.
“Não queremos um centavo a mais do que merecemos, mas agora a usina disse que não vai pagar os 40% do fundo de garantia, seguro-desemprego ou aviso prévio. É com esse dinheiro que a gente sustenta a nossa família durante o período de entressafra”, afirmou o cortador de cana José Manoel."

É importante reconhecer em tais atos, a politização desse trabalhador, que como todos sabem também sofrem com a precarização e flexibilização da restruturação do capital. Muitos, inclusive, trabalhando ainda em condições análogas ao trabalho escravo, como disse, na mesma matéria, alguns trabalhadores. "Outros trabalhadores denunciaram ainda que haveria cortadores de cana trabalhando de maneira ilegal, sem a carteira de trabalho assinada." Logo, imaginamos, se os regularmente contratados sofrem com a falta de cumprimento dos direitos trabalhistas, imaginem os que trabalham de forma "ilegal"!

Não é de hoje que existe crise no campo, ja nos foram mostrados massacres por parte dos latifundiários a uma centena de trabalhadores da terra no decorrer da história. Desde a segunda metade do século essa luta pela terra vem se atenuando dia-após-dia. A partir desse pressuposto histórico, achei interessante citar alguns trechos da tese a qual me referi mais acima, que destrincha os projetos de modernização e desenvolvimento agrícola do país.

"..outro projeto, o perdedor, o que foi vencido pelo golpe militar de 64, colocava claramente a necessidade de se constituir, para o desenvolvimento do capitalismo no Brasil, um amplo mercado interno. Para a constituição deste mercado interno, era necessário a distribuição de renda, para que o conjunto dos trabalhadores fossem alçados à condição de consumidores. Naquele modelo, a agricultura, caracterizada por algumas correntes que defendiam esta concepção como setor atrasado, "feudal", deveria se modernizar e esta passava pela necessidade de realização de uma Reforma Agrária, um amplo contigente de trabalhadores teria acesso ao consumo. Crescendo o consumo, cresceria a produção industrial e agrícola para atender a este novo mercado, o que estimularia o desenvolvimento econômico auto-sustentado. Este modelo foi vencido e os militares, junto com a parcela da burguesia que saiu vitoriosa, implementaram um outro. Neste, a proposta de Reforma Agrária foi abortada e a agricultura passou a ter um novo papel: de absorvedora de parte da produção industrial e produtora de insumos industriais a ser processado pelo próprio setor industrial...

A indústria comanda o crescimento econômico, dentro desta, o setor da produção de bens de consumo duráveis é o setor chave. Assim, não é necessário um amplo mercado consumidor, ao contrário, é necessário um mercado restrito, porém de alta renda, capaz de consumir a produção deste setor...A concentração de renda e o arrocho salarial são objetivos e explícitos das políticas econômicas postas em prática no período"

Sentiu o drama ne?! Viu como foi se concretizando a propriedade privada da terra, o latifundio entre tantos outros crimes contra o trabalhador rural?! A reforma agrária é uma necessidade antiga no país, não é de hoje!

Portanto, e muito importante movimentos de resistência eclodindo pelo campo: nas fazendas, no plantio da cana, pelos Movimentos da Terra. E mais importante ainda, é o apoio da sociedade.

Apoiar e saber a importância desses grupos de canavieiros que cobram do estado e de seus patrões melhorias tanto nas condições de trabalho, como na implementação, de fato, dos direitos historicamente conquistados.

Lamentar o séquito institucional que segue o estado a fim de pôr fim a qualquer demonstração contrária as "leis" por esta quimera imposta:
"Cerca de 30 homens do Grupamento da Polícia Militar de Teotônio Vilela, do Pelopes do 3º Batalhão, da Radio Patrulha e da Rocam estavam preparados com bombas de efeito moral e armas não-letais para enfrentar os quase mil manifestantes."

O LEVIATÃ?!!?


Conseguimos enxergar, também nesta matéria, a fragilidade na representação do trabalhador: os sindicatos inertes, reformados, servidores do Estado. Que não margeiam muito menos mediam acordos em prol do seu representado, acuados por medidas, leis, um soberano. A democracia burguesa.

Dai então, os trabalhadores são postos para negociar com quem com quem? Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool e o sindicado dos trabalhadores, onde estão? ... é preciso explicar quais direitos foram defendidos?!

Sob a égide militar dos anos 1960 estendida aos dias atuais estão a: repressão, punição e até a morte, da representação e de quem representa o trabalhador neste país.
Criar na subjetividade do trabalhador o medo, a desnecessidade de exigir seus direitos é a premissa dos que levam o Estado burguês em "berço esplêndido".




A negociação





¹ ♫ Wado- Reforma Agrária do Ar

3 comentários:

  1. "Sob a égide militar dos anos 1960 estendida aos dias atuais estão a: repressão, punição e até a morte, da representação e de quem representa o trabalhador neste país.
    Criar na subjetividade do trabalhador o medo, a desnecessidade de exigir seus direitos é a premissa dos que levam o Estado burguês em "berço esplêndido"."
    ñ podia terminar de forma melhor... TCC, chegue lg! vai sair um trabalho supimpa dessa cabecinha, aposto!

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  2. muito bem. assim vão se constituindo nossos objetos. a pesquisadora "que passa" hehe

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